Mãe-de-santo  
paulistana  

POR  GABRIELA MICHELOTTI  

Embora São Paulo não tenha uma tradição em candomblé antiga (os primeiros terreiros só surgiram na década de 60), uma mãe-de-santo paulistana tem se tornado popular no Brasil. 
Sandra Medeiros Epega, 49,  é muito diferente de sua 
 "colega baiana". Branca, nascida na Vila Mariana e educada em colégio de freiras, só teve seu primeiro contato com um terreiro aos 18 anos. 

  Sandra sofria havia três meses desmaios sem explicação médica. Seu pai procurou uma mãe-de-santo, que diagnosticou um "encosto" (espírito de morto). Sandra saiu do terreiro iniciada em Xangô. Nove anos depois, fundou sua casa o Ile Leuiwyato, em Guararema (72 km a leste de SP).
Mãe Sandra professa a tradição-dos-orixás, um candomblé mais africanizado, sem interferências do sincretismo brasileiro-católico. Em vez de mãe-de-santo, considera-se mãe-de-orixá porque "os orixás não são santos, são deuses, isso é uma deturpação causada pelo catolicismo".
Mãe Sandra não gosta também de falar em terreiro ("aqui é um templo, terreiro é coisa de escravo"") e feitiçaria ("coisa de brasileiro que gosta de conseguir as coisas pelo caminho mais fácil"). A proposta inovadora de Sandra pegou e hoje ela cobra R$ 90 por consulta. "Recebo empresários, políticos e pessoas conhecidas".
Sandra gostaria que sua herdeira fosse Leonor, 19, a filha mais nova. Mas, pela tradição ioruba, o orixá Orunmila é que decide sobre a sucessão. "A escolha final é feita por Orunmila, por meio do ifá, jogo de 16 búzios, que será feito por sacerdote de grande poder adivinhatório, depois que eu estiver morta", diz Sandra .