XANGO
(Do livro "Orixás - Pierre Fatumbi Verger - Editora Corrupio")
Xangô, como todos os outros imolè (orixás e ebora), pode
ser descrito sob dois aspectos: histórico e divino.
Como personagem histórico, Xangô teria sido o terceiro Aláàfìn
Òyó, "Rei de Oyó", filho de Oranian e Torosi,
a filha de Elempê, rei dos tapás, aquele que havia firmado uma
aliança com Oranian. Xangô cresceu no país de sua mãe,
indo instalar-se, mais tarde, em Kòso (Kossô), onde os habitantes
não o aceitaram por causa de seu caráter violento e imperioso;
mas ele conseguiu, finalmente, impor-se pela força. Em seguida, acompanhado
pelo seu povo, dirigiu-se para Oyó, onde estabeleceu um bairro que recebeu
o nome de Kossô. Conservou, assim, seu título de Oba Kòso,
que, com o passar do tempo, veio a fazer parte de seus oríkì.
Xangô, no seu aspecto divino, permanece filho de Oranian, divinizado
porém, tendo Yamase como mãe e três divindades como esposas:
Oiá, Oxum e Obá.
Xangô é viril e atrevido, violento e justiceiro; castiga os
mentirosos, os ladrões e os malfeitores. Por esse motivo, a morte pelo
raio é considerada infamante. Da mesma forma, uma casa atingida por um
raio é uma casa marcada pela cólera de xangô. O proprietário
deve pagar pesadas multas aos sacerdotes do orixá que vêm procurar
nos escombros os èdùn àrá (pedra de raio) lançados
por Xangô e profundamente enterrados no local onde o solo foi atingido.
Esses èdùn àrá (na realidade, machado neolíticos)
são colocados sobre um pilão de madeira esculpida (odó),
consagrado a Xangô. Tais pedras são consideradas emanações
de Xangô e contém o seu àse (axé), o seu poder. O
sangue dos animais sacrificados é derramado, em parte, sobre suas pedras
de raio para manter-lhes a força e o poder. O carneiro, cuja chifrada
tem a rapidez do raio, é o animal cujo sacrifício mais lhe convém.
Fazendo-lhe também oferendas de amalá, iguaria preparada com farinha
de inhame regada com um molho feito com quiabos. É, no entanto, formalmente
proibido oferecer-lhe feijões brancos da espécie sèsé.
Todas as pessoas que lhe são consagradas estão sujeitas à
mesma proibição.
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Na Bahia, diz-se que exitem doze Xangôs: Dadá; Oba Afonjá;
Obalubé; Ogodô; Oba Kossô; Jakutá; Aganju; Baru; Oranian;
Airá Intilé; Airá Igbonam, e Airá Adjaosi.
Reina uma certa confusão nessa lista, pois Dadá é irmão
de Xangô; Oranian é seu pai, e Aganju, um de seus sucessores. Também
na Bahia acredita-se que Ogodô é originário do território
Tapá, e que segura dois "oxés" quando dança,
sendo o seu èdùn àrá composto de dois gumes. Os
Airá seriam Xangôs muito velhos, sempre vestidos de branco e usando
contas azuis (segi) em lugar de corais vermelhos, como os outros Xangôs.
Ao que parece, teriam vindo da região de Savê.
ARQUÉTIPO
(Do livro "Orixás - Pierre Fatumbi Verger - Editora Corrupio")
O arquétipo de Xango é aquele das pessoas voluntariosas e enérgicas, altivas e concientes de sua importância real ou suposta. Das pessoas que podem ser grandes senhores, corteses, mas que não toleram a menor contradição, e, nesses casos, deixam-se possuir por crises de cólera, violentas e incontroláveis. Das pessoas sensíveis ao charme do sexo oposto e que se conduzem com tato e encanto no decurso das reuniões sociais, mas que podem perder o controle e ultrapassar os limites da decência. Enfim, o arquétipo de Xango é aquele das pessoas que possuem um elevado sentido da sua própria dignidade e das suas obrigações, o que as leva a se comportarem com um misto de severidade e benevolência, segundo o humor do momento, mas sabendo guardar, geralmente, um profundo e constante sentimento de justiça.
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