EGUNGUN, UM PROJETO INICIÁTICO

    O Projeto Egungun, que deu origem a este disco, nasceu da necessidade de classificar, ordenar e publicar o vastíssimo material (de som e imagem) que se foi acumulando durante muitos anos de convivência entre os fundadores da SECNEB e a comunidade do Ilê Agboulá.

    Os primeiros registros sonoros e fonográficos foram feitos em 1964, seguindo-se outros que deram origem a uma primeira catalogação e a um primeiro levantamento do material existente, feito em 1970, e à criação em 1980 do Centro de Documentação e Comunicação Pluricultural da SECNEB - Sociedade de Estudos da Cultura negra no Brasil.

    Formado por cientistas sociais e documentaristas, alguns deles líderes e integrantes das próprias comunidades negras, o Centro de Documentação se propõe a:

    a) documentar o universo das populações negras para guardar uma memória grupal e, através da história cultural do grupo, reciclar esse grupo para uma conscientização e uma nova visão de seus valores culturais;

    b) documentar, para, dentro desse enfoque, promover a identificação entre grupos semelhantes;

    c) documemtar para promover e disseminar valores culturais, abrindo uma nova percepção transcultural.

    Partindo dessa proposta, e em face do material e pesquisa já realizados, a SECNEB se propôs desenvolver o Projeto Egungun, que compreende várias etapas. Este trabalho está se traduzindo na compilação e na organização de todo o material colhido, para a feitura de uma série de audiovisuais, um filme de longa metragem, uma série de discos e um livro.

    O filme - "Egungun, Ancestralidade Africana no Brasil" - é um esforço que visa a transmitir um recorte da vida do negro no Brasil. E assim também, o livro, que pretende reproduzir os depoimentos e todo o registro sonoro realizado pelas diversas equipes do Projeto Egungun.

    O Projeto registra aspectos significativos do patrimônio cultural da comunidade do Ilê Agboulá e do culto dos Egun e abrange quinze anos de trabalho, realizado não só por integrantes da própria comunidade como pelas equipes, que a SECNEB pretende "iniciáticas" (compostas de pessoas não necessariamente iniciadas nos mistérios do culto mas tanto quanto possível integradas na vida do grupo focalizado, para que possa documentá-la sem visões ou percepções etnocentristas, estranhas ao meio, deturpadas).

    A SECNEB, repetimos, é composta, também por integrantes de comunidade negras, e tem em seus quadros gente do Ilê Agboulá. Daí a perfeita viabilidade de projetos como este, em que o trabalho é desenvolvido com o cuidado de unir e não fragmentar, documentando, com seriedade e respeito, não aspectos isolados mas um conjunto de acontecimentos e manifestações dentro de seu contexto social e histórico. E isto foi bem compreendido por outras instituições que, então, apoiaram a concretização do Projeto.

    Na parte de pesquisa comparada, a SECNEB teve o apoio da UNESCO, das Universidades de Ifé e Ibadan e do IRAD, Instituto de Pesquisas da atual República do Benin. No que toca à realização concreta do Projeto, a entidade obteve a colaboração da Fundação Cultural do Estado da Bahia. Quanto a financiamento e apoio logistico, a SECNEB teve ao seu lado a Embrafilme, o Banco de Desenvolvimento da Bahia - DESEMBANCO, e a Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico da Bahia.

    No todo do trabalho, a entidade teve consigo o apoio constante e o sábio aonselhamento dos Amuixã, Ojé, Alagbá, Alapini, que mantém viva a identidade e a chama da continuidade histórica da nação iorubá no Brasil.