Eis
o candomblé, a festa dos Orisás, uma celebração constante da vida e da
natureza, onde dançando, caminhamos ao encontro da nossa ancestralidade.
Aqui está a resistência que sobressaiu nas guerras, que atravessou os
mares e enfrentou hostilidades. Esta é a cul-tura de um povo que sobreviveu
a inúmeros massacres, às imposições de outras crenças ditas "superiores",
que se preservou e pro-grediu, reencontrando as raizes, voltando
à sua origem: à grande mãe chamada África. Embora esteja separada por
um imenso oceano, esta nação se faz presente em cada Casa de Candomblé,
reflete-se nos hábitos dessa gente, que nem sempre têm a pele escura,
mas encon-tram nesses pequenos pedaços de África, a verdade, não a verdade
absoluta, porém a sua verdade.
Então, atribui-se ao Candomblé um caráter sagrado. Por um lado a religião
atrai, tudo é tão bonito: as roupas, as danças e os cânticos. E por outro
lado, as pessoas repugnam o Can-domblé. 0 fato é que reagem como a algo
sa-grado e proibido, evitando qualquer contato. Isto ca-racteriza o Candomblé
enquanto tabu.
A diferença é que neste sagrado está implícito uma idéia de impuro. Mas
as pessoas respeitam a interdição, que, sequer parte do Candomblé, é uma
proibição da sociedade, não apenas a uma religão, mas a uma cultura considerada
inferior.
Nossa
preocupação não é acabar com o preconceito, mas informar às pessoas e
desfazer certas idéias e equívocos, mostrando que não há nada de macabro
no Candomblé. Sem dúvida, o segredo em que se envolveu a religião no Brasil
e a completa falta de informação a respeito de tal crença, implicaram
numa série de práticas incorretas que contribuiram na criação
desta imagem negativa.
Ocorre que as religiões afro-brasileiras dividem-se em duas vertentes
principais: a Umbanda e o Candomblé. Dois cultos que, embora possuam
elementos em comum, estão muito distantes no que diz respeito aos
seus dogmas, preceitos e concepções do mundo;
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porém, ambas são vítimas do mesmo
precon-ceito, já que as pessoas não fazem qualquer distinção entre elas
e acreditam que Umbanda, Espiritismo ou outro culto, que por algum motivo
se aproxime do Candomblé, sejam iguais. Também podem fazer uma divisão
entre o bem e o mal, colocando o Candomblé como uma reli-gião voltada
para a maldade. Na verdade, o Candomblé não se ocupa de fazer o mau às
pessoas, cada um preocupa-se com o seu pró-prio bem e com o bem da humanidade.
Outra confusão latente refere-se à designação gené-rica, que tornou-se
pejorativa, de macumba. As pessoas identificam Candomblé e o despacho
da encruzilhada sob a alcunha de macumba. Os sacrifícios realizados no
Can-domblé não ficam expostos nas ruas, encruzi-lhadas, cemitérios ou
lugares afins. São rituais restritos ao espaço sagrado do templo, rituais
de consagração e renovação da força
sagrada, do Asé.
0
Candomblé não é uma
seita cruel que mata animais e bebe sangue. 0 sacrifício de animais tem
um significado profundo, uma noção que existe na própria Bíblia e se mantém
na Igreja Católica. "Depois de teres degolado o carneiro, tomarás do seu
sangue e derramá-lo-a em torno do altar", essa passagem da Bíblia encontra-se
no Exodo-29. Nós, fiéis do Candomblé, consi-deramos a Bíblia como urna
preciosa fonte histórica e, como os téologos, a reflexão dos homens sobre
Deus. A liberdade de culto reli-gioso é assegurada na forma da lei pela
Cons-tituição da República Federativa do Brasil. Portanto, o espaço sagrado
do templo deve ser preservado e a lei garante este direito. Por isso,
cabe a cada babalorisá se conscientizar dos seus direitos e lutar por
eles, certos de que têm razão . Para isso basta agir corretamente, levar
o sacerdócio a sério, fazer do Candomblé uma casa de auxílio, onde
a generosidade e à ajuda mútua prevalecem. 0 Candomblé é uma religião
aberta a qualquer pessoa, não há se-gredos que não sejam revelados àqueles
que participam do Candomblé, muito
distantes no que diz respeito aos seus nem qualquer inter-dito que impeça
as pessoas de penetrarem neste universo maravilhoso.
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