EDUARDO DE IJEXÁ

(Do livro BAHIA DE TODOS OS SANTOS guia de ruas e mistérios de JORGE AMADO e ilustrações de CARLOS BASTOS – Distribuidora Record de Serviços de Imprensa S.A. )

Eduardo Mangabeira, em cujas mãos repousa a tradição ijexá na Bahia, o último dos grandes babalaôs, zela pelos orixás em seu terreiro fechado, onde não penetram turistas, nem os indóceis africanologistas de meia-tigela que pululam atualmente nas ruas da cidade. Sobretudo com a possibilidade de viagens à África, congressos e festivais, o número de entendidos em candomblé e em cultura negra multiplicou-se.
Existem mais mestres em religiões negras do que tapeceiros, e olhem que é muito dizer porque a praga dos tapeceiros – cada qual mais ruim – é infinita.

Longe de tudo isso, no recato e na dignidade de suas funções de guardião dos deuses na nação ijexá, o venerando babalorixá conserva o axé, guarda o segredo, impede que o mistério seja violado e degradado. Diante de Menininha do Gantois e de Eduardo de Ijexá – dizia-me há poucos dias Luiz da Muriçoca – nós, os mais moços (moços de cinquenta anos), não somos nada.

Uma vez, Carybé, Dorival Caymmi e eu fomos visitá-lo em sua casa, em Brotas. Por acaso falou-se no jogo feito naquela ocasião para escolher a sucessora de uma mãe-de-santo. Eduardo de Ijexá não estivera presente mas sabia tudo que se passara, coisas falsas e sujas. Encheu-se de indignação, começou a clamar em português contra a violação das regras, mas logo prosseguiu em iorubá como se precisasse da língua de seus avós para a condenação.

Anda para os noventa anos. Parece uma árvore frondosa, parece um rei, revestido da maior dignidade. Eduardo de Ijexá, pai de sua nação.